Entre o discurso verde de Lula e a realidade da exploração da Amazônia
O Brasil está diante de um xeque-mate ambiental.
Às vésperas da COP30, em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se apresenta ao mundo como o grande líder verde, defensor da Amazônia e símbolo de uma nova era sustentável. O discurso é inspirador, repleto de compromissos e frases de efeito. Mas a realidade amazônica mostra um país dividido entre a promessa da preservação e a prática da exploração.
Enquanto o governo comemora a redução do desmatamento e promete “desmatamento zero até 2030”, outros setores da própria administração abrem caminho para novas frentes de exploração de petróleo no delta do Amazonas. A mesma gestão que fala em bioeconomia e transição justa apoia, ao mesmo tempo, o avanço do agronegócio sobre áreas sensíveis da floresta. Assim, o país tenta conciliar duas identidades que se anulam: a de potência ambiental e a de potência extrativista. O resultado é um discurso que brilha nos palcos internacionais, mas se apaga nas margens do Rio Amazonas.
A contradição se torna ainda mais simbólica quando Lula defende o direito de “pesquisar e explorar as riquezas naturais” da Amazônia. O problema não é apenas técnico — é moral. Como pode o anfitrião da conferência mundial do clima promover novas explorações de petróleo na floresta que deveria proteger? Essa incoerência faz o Brasil perder força exatamente no momento em que poderia consolidar sua liderança global.
A Amazônia, chamada tantas vezes de “orgulho nacional”, continua sob pressão. Apesar da queda estatística no desmatamento, a degradação persiste, os incêndios voltam a crescer e as comunidades tradicionais seguem ameaçadas. A floresta vive entre a fé e a febre — esperança no discurso, desespero na prática.
Ao sediar a COP30, o Brasil ganha visibilidade, mas também se coloca em julgamento. O país que quer ensinar o mundo sobre sustentabilidade precisa primeiro provar que aplica esses valores dentro de suas próprias fronteiras. O desafio de Lula é transformar palavras em coerência — e isso significa enfrentar interesses, rever prioridades e colocar a floresta acima do lucro.
O mundo não cobra mais promessas, cobra atitudes. E a Amazônia, silenciosa, é o espelho onde o Brasil agora precisa se olhar.
Entre a floresta e o petróleo, entre o discurso e a prática, o país se encontra diante de uma escolha histórica.
Ou será o guardião da vida que proclama ser, ou o explorador disfarçado de verde.
O norte, da Redação